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Firefox: Privacidade em Xeque?

28 de fev de 2025 — SlackTrekBr

Uma mudança recente agitou a comunidade open source: os novos Termos de Uso do Firefox, anunciados pela Mozilla em fevereiro de 2025. Como usuário Linux e amante de soluções que respeitem nossa privacidade e autonomia, resolvi deixar meus dois centavos sobre o que isso significa.


O que mudou?

Pela primeira vez na história do Firefox, a Mozilla introduziu Termos de Uso formais, junto com uma Política de Privacidade atualizada. Até então, o navegador — um ícone do software livre — dependia da licença open source (Mozilla Public License) e de promessas públicas de respeito à privacidade. Mas agora, ao usar o Firefox, você concede à Mozilla uma “licença não exclusiva, livre de royalties e mundial” para usar informações que você insere ou envia pelo navegador. Isso inclui, teoricamente, desde o que você digita até arquivos que sobe em sites.

A Mozilla diz que essa licença serve apenas para fazer o Firefox funcionar — por exemplo, processar URLs digitadas ou enviar um arquivo quando você faz upload. Eles garantem que não tomam posse dos seus dados e que o uso é limitado ao descrito na Política de Privacidade. Ainda assim, a redação vaga assustou muitos usuários, e a remoção de uma antiga promessa no FAQ (“nunca vendemos seus dados e nunca venderemos”) só jogou lenha na fogueira. Some a isso o fato de que o Firefox agora exibe anúncios na página de nova aba, com dados agregados compartilhados com parceiros publicitários, e o cenário fica preocupante.

O que a Mozilla está coletando?

Segundo a Política de Privacidade, o Firefox coleta por padrão:

  • Dados técnicos: como seu sistema operacional Linux (oi, pinguins!), versão do navegador e relatórios de falhas.
  • Dados de interação: como quantas abas você abre ou se usa recursos como capturas de tela.

Esses dados são anonimizados e podem ser desativados nas configurações (em “Privacidade e Segurança” > “Coleta de Dados e Uso do Firefox”). Recursos de IA, como tradução de páginas, rodam localmente, sem enviar seus dados para a Mozilla — a menos que você opte por integrar serviços de terceiros, como chatbots. Até aí, nada muito diferente do que já víamos. Mas a questão é: por que a mudança nos termos? Será que a Mozilla está se preparando para algo maior, como usar nossos dados para treinar IA ou expandir parcerias publicitárias?

Por que isso importa para usuários Linux?

No mundo Linux, escolhemos ferramentas como o Firefox porque elas representam liberdade e controle. A Mozilla sempre se vendeu como uma alternativa ética aos gigantes como Google Chrome e Microsoft Edge, que lucram com nossos dados. Mas essas mudanças nos termos sugerem um deslize perigoso. Mesmo que a coleta atual seja limitada e opcional, a falta de transparência inicial e a possibilidade de futuras alterações (os termos podem ser atualizados a qualquer momento) abrem brechas para abusos. Para quem usa o Firefox em uma distro como Debian ou Arch para acessar serviços sensíveis — digamos, um Nextcloud pessoal ou um site de ativismo —, qualquer ambiguidade em contratos é um risco.

Alternativas open source

Se você, como eu, está repensando o uso do Firefox, aqui vão algumas opções livres e focadas em privacidade:

  • Brave: Um navegador baseado em Chromium, mas com bloqueio nativo de rastreadores e anúncios. É open source e não depende de telemetria invasiva.
  • LibreWolf: Uma fork do Firefox otimizada para privacidade, removendo telemetria e configurando padrões mais seguros. Perfeita para quem quer o jeitão do Firefox sem os novos termos.
  • Ungoogled Chromium: Uma versão do Chromium sem as garras do Google, mantendo o código aberto e eliminando coleta de dados.

O que fazer agora?

Se você ainda quer dar uma chance ao Firefox, vá em “Configurações” e desative a coleta de dados técnicos e de interação. Considere usar extensões como uBlock Origin e ClearURLs para reforçar sua proteção. Mas, acima de tudo, fique de olho: contratos que mudam de repente, mesmo em projetos open source, são um sinal vermelho.

A Mozilla diz que “transparência cria confiança”, mas essas mudanças mostram que até os “bonzinhos” podem nos deixar na mão. Como usuários Linux, nossa força está em questionar, adaptar e buscar alternativas.


Tags: privacidade, internet, programas